O termo “recomeçar” é um verbo transitivo direto e definido, segundo o Google, como o ato de começar de novo; refazer-se depois de interrupção. Aplicado no contexto social, é uma palavra essencial para o retorno amoroso após uma separação. O resgate da vida afetiva é um passo complicado e tem todo um procedimento de aceitação.
A formação de um casal é a representação real da união de duas histórias diferentes. São bagagens, expectativas, experiências e sonho que se relacionam, para trilhar juntos o mesmo destino. Por isso toda a separação causa danos emocionais para os envolvidos.
De fato, houve uma grande mudança comportamental das famílias contemporâneas. A facilidade do casamento e a agilidade na separação, torna-se mais fútil toda a problemática da relação. A separação conjugal é responsável por transformações dentro do núcleo familiar e, como desdobramento, as modificações dos papeis sociais dos indivíduos, principalmente quando envolve a maternidade e a paternidade (Wagner & Mosmann, 2009).
Terezinha Féres-Carneiro, em sua pesquisa “Separação: o doloroso processo de dissolução da conjugalidade”, fez um levantamento entre homens e mulheres, em duas categorias de idade, para identificar como é processo de separação e reconstrução dos laços sociais e amorosos, para cada gênero. Através da descrição de Caruso (1968/1989), a autora descreveu que “o processo é uma das mais dolorosas experiências pelas quais pode passar o ser humano, é um processo complexo, vivido em diferentes etapas e em diferentes níveis, ou seja, nos pensamentos secretos de cada membro do casal, no diálogo entre eles e na explicitação para o contexto social que os circunda. Para o autor, estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte na vida, ou seja, na separação há uma sentença de morte recíproca: ‘o outro morre em vida, mas morre dentro de mim… e eu também morro na consciência do outro’ (p. 20)”.
Muitos casais recorrem, antes das vias de fato da separação, a terapias como forma de saírem do casamento de forma mais tranquila, o termo “se separarem bem”. É possível identificar, durante o processo terapêutico, o contato com o desejo da não separação, muitas vezes relacionados com o inconsciente. Especialmente, nesses casos, o casamento é restaurado e respeitado. Em outros, as terapias reforçam mais a necessidade do fim do casamento.
A pesquisa de Terezinha pontua que não foram encontradas diferenças relevantes entre os dois grupos etários estudados, pode-se considerar que a idade não é um fator importante na vivência do processo de dissolução da conjugalidade. Entretanto, as atitudes e os sentimentos de homens e mulheres se contrastaram em muitas das situações avaliadas, apontando para a importância do gênero como fator diferenciador na vivência da separação conjugal.
Embora vivenciando a mesma dor, homens e mulheres comportam-se diferentemente e manifestam de forma distinta seus sentimentos em relação à separação e àquilo que pode tê-la provocado. Tais diferenças estão muito mais relacionadas a questões culturais do que a distinções biológicas entre os sexos.
Quando homens e mulheres apontam a infidelidade masculina como uma das causas da separação, ao mesmo tempo em que estão ressaltando que a traição masculina é mais tolerada culturalmente do que a feminina, estão também explicitando uma reação maior das mulheres que, traídas, desejam a separação nos relacionamentos conjugais.
À medida em que as mulheres conquistaram, nas últimas décadas, mais espaços no mercado de trabalho, elas também se expuseram mais a traírem seus cônjuges, ao mesmo tempo em que se tornaram amorosamente mais exigentes.
A separação é uma perda que se assemelha, em alguns casos, coma própria viuvez. Não é à toa que a fase seguinte após o término é chamada de luto, afinal é a morte de da idealização da família e do amor eterno.
Após passado do luto, é necessário desenvolver objetivos para se fortalecer e se curtir para estar apto a um novo envolvimento. O primeiro passo para dar “adeus” à melancolia é investir em si mesmo.
O ideal é tentar contar o término para parentes ou amigos. Dessa forma você consegue assimilar dentro de você mesmo os lados negativos do relacionamento e sentir a necessidade de mudança. Outra saída que se torna valiosa nestes casos é simples: mexa-se. Procure fazer atividades que reúna as pessoas que possuem os mesmos interesses que você. Faça exercícios, o que libera endorfina (que permite trazer bem-estar), e outros programas que multipliquem a alegria. Aproveite e se jogue, inclusive, em atividades que seu ex não gostava de fazer.
Após perceber os primeiros sinais de mudança dentro de si mesmo, note que está na hora de anunciar a novidade e altere alguma coisa no exterior. Mude a ordem dos móveis da casa, corte e pinte o cabelo, use aquele esmalte que você tanto queria e aposte em visuais que ressaltem sua beleza.
O primeiro encontro sexual após o fim do relacionamento costuma gerar temor e ansiedade. A tarefa mais difícil é enfrentar os constrangimentos gerados pela primeira transa com a outra pessoa. As expectativas individuais pesam muito nesse quesito. Beije e faça sexo se realmente estiver à vontade e afim.
Não tenha presa e não pule etapas. Não vá achando que irá casar com a primeira pessoa que sair. Reaprende a viver cada momento e respeite seus limites. Não busque preencher as lacunas deixadas pelo último relacionamento. As pessoas não são iguais.
O importante é saber que não se encerra por aí. Depois dos turbilhões de emoções, vem a fase de reconstruir e identificar o novo papel social. A compreensão do novo estado civil é determinante para prosseguir na vida amorosa. E sim, existe vida amorosa após uma separação. O fim do casamento deixa sequelas, positivas e negativas, e o resgate emocional é uma alternativa para encarar essa nova fase.
Referências:
– “Separação: o doloroso processo de dissolução da conjugalidade”, Terezinha Féres-Carneiro
– “O Vínculo Amoroso: a trajetória da Vida Afetiva”, Luiza Ricotta
– Portal Minha Vida