Pouco se sabe sobre a participação dos parceiros no processo da menopausa feminina. O pouco que existe na literatura revela que a comunicação com suas parceiras é escassa quando o assunto é sexualidade. Porém, mesmo quando o assunto são problemas femininos, as pesquisas relatam que há falha na comunicação. Um estudo publicado em 2008 questionou mulheres sobre os comportamentos de seus parceiros frente às mudanças em seu ciclo menstrual. Muitas disseram ter recebido pouco ou nenhum apoio em uma fase da vida que consideravam crucial.
Alguns autores sugerem que a razão para este fechamento é a cultura de pressão sobre os jovens meninos. A exigência é que pareçam sempre bem dispostos e sem problemas, não lidando com sentimentos. O papel do homem como provedor deve ser sustentado pela agressividade, competitividade e voracidade sexual.
É certo que o papel masculino vem sendo questionado na sociedade nos últimos anos. Discussões trazem à luz a ideia de um “novo homem”, mais sensível e aberto. A masculinidade hegemônica é suavizada, o que pode ter efeito sobre a maneira com que lidam com o que supostamente seria considerado “problema feminino”.
Pesquisadores de três Universidades de Londres entrevistaram um grupo de 8 de homens de 42 a 65 anos. Estes homens estavam em relações heterossexuais de longo prazo mulheres na menopausa. Foram perguntados sobre como isso afetava suas vidas, relacionamento com a parceira e perspectivas para o futuro. Pelo baixo número de participantes, a pesquisa não pôde ser generalizada para toda a população. As informações, no entanto, servem para um início de diálogo sobre as preocupações e angústias dos parceiros frente às mudanças ocorridas neste período, para que a comunicação entre os parceiros melhore e o relacionamento seja mais satisfatório.
A menopausa foi descrita como um período bem demarcado na vida da mulher. Ela entraria e sairia transformada (para melhor ou para pior). No geral, os parceiros percebiam este momento como natural, inevitável e emocionalmente difícil. Relataram que suas esposas eram vítimas de um descompasso biológico. Sabiam que por vezes “não eram elas mesmas”. Uns ainda acreditavam que a mulher era capaz de controlar suas explosões de acordo com os seus próprios interesses.
Por outro lado, alguns participantes identificaram a menopausa como um período de crescimento pessoal em potencial. Para eles, passar pelas mudanças da vida requer força de caráter e resiliência. Pode ser benéfica se encarada como um novo estágio na vida da mulher. Alguns relataram que, se vista desta maneira, a menopausa poderia funcionar como um catalisador para a melhora da sexualidade feminina. Apesar do receio de que a sexualidade de suas parceiras desaparecesse dali para frente, acreditavam que elas poderiam tornar-se mais maduras, mais tranquilas e com mais amor por elas próprias e suas histórias.
Sobre o casal e o relacionamento, os participantes foram companheiros. Relataram a importância de se atravessar as adversidades, os sentimentos de confusão e a falta de direção frente às novas mudanças. As experiências vivenciadas pela parceira serviu para que eles olhassem para a própria história e os próprios desafios.
A maioria dos participantes disseram apoiar suas parceiras. Agiriam com paciência, simpatia, entendimento e tolerância, mas percebiam que o que faziam não era suficiente. Alguns relataram o sentimento de impotência frente às reclamações e acessos de raiva da parceira, como se nunca conseguissem fazer nada direito.
No geral, os participantes acreditavam que a sexualidade e a fertilidade estavam intimamente relacionadas e sinalizaram aspectos positivos e negativos desta relação. Do lado negativo, eles temiam que junto com a fertilidade, a sexualidade também diminuísse ou acabasse, e que isso resultasse na perda da identidade do casal.
Alguns participantes relataram preocupação com o comportamento sexual feminino agora que a mulher não teria a preocupação de engravidar e estaria “livre e desimpedida” do ponto de vista físico. Eles comentaram não estarem tão preocupados com o desejo que sentiam pelas esposas, mas que temiam que elas não sentissem mais desejo por eles.
Por outro lado, os participantes também expressaram a visão de que a menopausa (e até o envelhecimento feminino) seria insignificante para a atratividade das mulheres, e alguns ainda identificaram um número de benefícios relacionados à menopausa de suas parceiras incluindo o aprofundamento da relação, a liberação de amarras da contracepção e melhora no diálogo sobre o sexo).
No geral, a preocupação com a idade não pareceu ser um problema tão grande. A preocupação maior com o envelhecimento parece ser das mulheres. Para os homens, no entanto, o envelhecimento feminino certamente serve de marcador para o seu próprio envelhecimento. Alguns participantes comentaram sobre estar em uma época da vida peculiar. Associam-se mais com os pais e tem um choque quanto a essa percepção.
Com a minha prática clínica percebo que o casamento passa por várias modificações ao longo dos anos, cada fase da vida do casal exige dos mesmos reorganizar e modificar internamente suas emoções. Muitas variáveis ao longo da vida podem desestruturar o casal, bem como pode fortalecer cada vez mais a união. O climatério e a menopausa podem tirar o casal da zona de conforto, os casais que tem comprometimento e tolerância mútua, que se preocupam com mais qualidade de vida e saúde e buscam informações e conhecimentos sobre a menopausa, tendem a encarar esta fase com mais suavidade e otimismo e se adaptar mais facilmente às mudanças ao longo da vida.
Os participantes relataram desconforto e vergonha ao tratarem do assunto com as suas esposas. Uns percebiam a menopausa como um assunto absolutamente privado e pessoal. Temiam que o assunto pudesse cutucar assuntos pouco explorados e delicados no relacionamento, como baixa frequência sexual entre outros. A maioria relatou ter receio de tocar em um assunto tão delicado por medo de desestabilizar a relação e por respeitarem a privacidade de suas parceiras. Houve uma ideia geral de que os homens não devem se preocupar com esse assunto, porque são homens. Um participante foi instruído pela própria mãe nesse sentido.
Se com as parceiras, o assunto é delicado e pouco explorado, entre círculos masculinos ele é totalmente proibido. Os participantes especularam que um dos motivos para isso é a exposição da parceira e de si próprios, podendo sinalizar uma sexualidade insatisfatória entre o casal. Segundo os autores do estudo, este comportamento é compreensível uma vez que a masculinidade hegemônica dita que um “homem de verdade” deve ser guiado por impulsos sexuais que demandam gratificação imediata, e uma inabilidade de evocar desejo ou satisfazer a parceira sexualmente representaria o fracasso da dominação masculina e poderia desestabilizar a identidade heterossexual masculina.
Relações de longa data são complexas e não obedecem a regras claras quanto ao seu funcionamento. Para que essas diferenças sejam reduzidas, o diálogo é um grande aliado e pode ser desenvolvido entre todos os casais. Quando um casal conversa, novos caminhos tendem a surgir, novos pontos de entendimento e os problemas passam a ser assimilados de uma maneira mais natural e orgânica. Abrir espaços de conversas para ambos homens e mulheres também é importante, para que assunto seja tratado de maneira clara e aberta, respeitando as ansiedades e sofrimentos de todos.
Casais que se preocupam mais com a qualidade de vida e saúde e buscam informações e conhecimentos sobre a menopausa, tendem a encarar esta fase com mais suavidade e otimismo.
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