Os votos do casamento são uma demonstração de união eterna do amor. Os dois. Duas pessoas. O casal. Sempre se espera uma vida a longo tempo, mas nunca se pensa na despedida. Seja por mudanças, doenças, separação ou viuvez. A maioria das pessoas acreditam que enterrar um cônjuge seja realidade apenas dos casais mais velhos. De um tempo para cá, esses fatos se ampliaram e atinge várias faixas etárias.
A morte é encarada de diversas formas pelos companheiros. Um alívio, para alguns, quando se leva um casamento sem se importar em que condições, e até um enterro duplo, para outros, quando há uma abdicação da própria condição de vida. Neste último caso, o sofrimento é inenarrável e não existe uma palavra de conforto que ultrapasse o desejo de acompanhar o amor até depois do fim.
Através da pesquisa, presente no artigo “A viuvez: A representação da morte na visão masculina e feminina”, é possível notar que a morte “em seu sentido objetivo significa muito mais do que apenas a perda física do cônjuge. Ela acarreta na história da pessoa que fica o surgimento de novos sentimentos. O novo estado civil gera um novo sentido à sua identidade”.
O levantamento, através dos personagens entrevistados, mostra como o homem e a mulher se relacionam com a perda. Para os homens, foi identificado e confirmado que além da perda de seu objeto e papel social esposa, tiveram a perda daquela que lhes proporciona o cuidado. Sentiram falta dos afazeres domésticos que lhe eram servidos, oferecidos. Já as mulheres, também foi possível afirmar que existe um sentimento de liberdade frente à perda do marido. Foi observado que a dependência nesse objeto lhe trazia desconforto na vida do matrimônio.
De outra forma, mais grave, o artigo “Coração Partido: o luto pela perda do cônjuge” revela que a personagem entrevistada apresentou sintomas cardíacos sem causa orgânica, após a perda do cônjuge. “Pode-se observar as diversas manifestações psicológicas e físicas expressadas devido à dor emocional que afetaram sua saúde física e mental, dentre elas solidão, tensão, ansiedade, tristeza, crises de choro, culpa, raiva, hostilidade, dificuldade em reorganizar as questões práticas, distúrbios do sono e do apetite, dores de cabeça e sintomas cardíacos”. A despedida ultrapassou os desgastes psicológicos e atingiu o material, gerando consequências a saúde e bem-estar.
A perda gera receptividade de formas subjetivas. Desde os mais práticos aos mais complexos relacionamentos. O importante é compreender a necessidade de ajuda profissional para lidar com a viuvez. Não há nada de errado de utilizar terapias com válvula de escape.
A escritora britânica Helen Fielding, famosa por capturar os desafios que a sociedade propõe as mulheres de forma plena, em seu terceiro livro da série Bridget Jones, Louca pelo Garoto, narra o desafio da personagem em enfrentar a perda do marido, a atração por uma nova pessoa e logística para conciliar seus afazeres, com os cuidados dos filhos ainda pequenos. A autora reconstrói a vida social e amorosa de Bridget, expondo a compreensão das relações após a perda do companheiro.
É claro que o luto leva um tempo, que muitas vezes não é compreendido e nem respeitado. Há vida após a viuvez. Amor, relacionamento e principalmente sexo, em qualquer idade da perda.
Referências:
– A viuvez: A representação da morte na visão masculina e feminina – Marcela Eiras Rubio, Kátia Silva Wanderley e Maurício Miranda Ventura.
– Coração Partido: o luto pela perda do cônjuge – Cristiane Corsini Prizanteli
– É possível seguir em frente mesmo após uma viuvez precoce – Ana Cássia Maturano